Encontro do CMEC estimula a mulher a romper o silêncio contra violência doméstica
Romper o silêncio. Esta é a senha para dar início à batalha contra a violência doméstica contra a mulher, um problema silencioso e cruel que não escolhe cor, idade, classe social e pode levar à morte. Os índices de feminicídio não deixam dúvidas. A temática apresenta várias vertentes e as vivências são dolorosas, como foi mostrado na noite de terça-feira (15), na reunião do Conselho da Mulher Empreendedora e da Cultura (CMEC), dentro da programação do “Agosto Lilás”.
A proposta inicial era tratar da questão por meio de palestras, sob o ponto de vista das políticas públicas e as questões legais, mas o assunto rendeu muito mais do que estatísticas, casos de polícia e atendimento psicológico. Feridas vieram à tona e discussões emocionadas se prolongaram entre as participantes do encontro, que foi conduzido por Herriete Cedraz, presidente do Conselho, e Tatiana Novaes, Executiva da Associação Comercial e Empresarial de Feira de Santana (ACEFS).
Ao abrir o evento, cujo tema central foi “Violência doméstica, assédio sexual e moral”, no auditório da ACEFS, Herriete deixou claro que a proposta é promover ações que mudem o comportamento e disseminar o amor. “É uma revolução silenciosa”, definiu, defendendo que é preciso “experimentar a escuta, falar menos e ouvir mais”. Ela acredita que o CMEC está no caminho certo, trabalhando para engrossar fileiras e alcançar os resultados esperados.
Esse foi, também o tom das palestras que deram início à roda de conversa com a advogada Aline Castro, especializada na Lei Maria da Penha; Gerusa Sampaio, vereadora licenciada e titular da Secretaria Municipal da Mulher; e Josailma Ferreira, diretora da Divisão da Mulher da pasta. A mediação ficou por conta da jornalista Madalena de Jesus, que também conduziu a participação do público presente após as explanações das palestrantes convidadas.
“A cada 10 segundos uma mulher é violentada”, afirmou Aline Castro, destacando que a violência acontece em qualquer lugar e deixa marcas físicas e emocionais. Segundo ela, a vergonha e a dependência financeira são fatores que levam a mulher a se calar, ter medo de denunciar. A advogada disse que em muitos casos a vítima de violência doméstica sai de casa “com a roupa do corpo”, mas a maior perda é a identidade. “A ideia é: inspire, respire e voe”, ensinou, ao falar da importância da medida protetiva nesse processo.
Josailma Ferreira contou que lida diariamente com essas situações no atendimento na Secretaria da Mulher e alertou para a necessidade de mudança da visão de que “em briga de marido e mulher não se mete a colher”. Ela disse que, nesta área, o primeiro passo é se despir de qualquer preconceito ou julgamento e acolher. Josailma reconheceu que romper o ciclo da violência não é fácil, porque envolve não aceitação, dependência emocional e financeira e assegurou: “Nenhuma mulher gosta de apanhar”.
Última palestrante da noite, Gerusa Sampaio disse que as mulheres que compõem o Conselho são inspiradoras, citando a presidente Herriete Cedraz. Ela falou da própria experiência de lutas, inclusive como vereadora, mas nada comparado ao desafio de dirigir a Secretaria da Mulher. “Lidamos com a dificuldade de romper o silêncio, mas há muitas histórias de superação”, atestou Gerusa, acrescentando que a mulher precisa, sobretudo de acolhimento, “para que possa levantar quando está no chão e ser aplaudida quando está de pé”.
O encontro reuniu mulheres da cidade e da zona rural, representando vários segmentos. Várias delas se manifestaram, contando vivências próprias e de pessoas próximas, como Claudiana do Nascimento, empreendedora comercial do distrito de Matinha; Nádia Rios, assistente social; Juliara Bastos, advogada; Vone Santana, radialista que mantém um programa sobre mulheres na rádio Sociedade News FM; e Priscila Dias, esteticista, dentre muitas outras participantes.