Vozes Pretas: vivências de mulheres empreendedoras são destaque em evento na ACEFS
O formato do evento não poderia ser mais apropriado: roda de conversa. E foi o relato de muitas vivências de empreendedorismo feminino que manteve um grande número de mulheres reunidas no auditório da Associação Comercial de Feira de Santana (ACEFS), na noite de segunda-feira (20), para ouvir as “Vozes das Pretas”. A realização foi do Conselho da Mulher Empreendedora e da Cultura (CMEC), capitaneada pela presidente Tatiana Novais e a vice-presidente Jamilly Pink, que também é diretora da Mulher na ACEFS.
Foram as vozes de Antônia Pereira dos Santos (Tonha dos Salgados), Rose Neves, CEO da Afrohair, e Iraci de Jesus, idealizadora da Caule Verde Cosméticos Artesanais, que nortearam a longa e interessante conversa sobre empreendedorismo, desafios, sonhos, tropeços, superação e, sobretudo, vitória. Nada foi fácil da vida dessas três mulheres pretas, que como tantas outras tiveram que provar o tempo todo que eram capazes de vencer tudo, do preconceito dentro e fora de casa à discriminação da sociedade.
“Não sei se é empreendedorismo ou trabalho mesmo”, simplificou Tonha dos Salgados, a vendedora de pastel que fez da comida – ela também vendia quentinhas – o combustível da própria vida e dos quatro filhos, com quem dividia apenas um quarto sem banheiro. Não desistir era o seu lema. “Um dia faltava matéria, outro não vendia nada”, contou, lembrando que havia ainda a disputa pelo espaço para vender. “Muitas vezes tomaram minha mercadoria”, citou, preferindo lembrar das pessoas que sempre a ajudaram a se tornar uma referência no segmento. “Deus nunca me abandonou”, frisou.
Vida de preto não é fácil. Quem atesta isso é Rose Neves, cabelereira de mão cheia, mas que teve que lutar contra o peso da cor da pele a vida inteira. Ela disse que após a abolição, os negros continuaram escravos do sistema. “Temos que ser corajosos, não olhar para o lado”, afirmou a profissional que começou a trançar cabelos ainda menina, em casa ou na varanda das vizinhas, trabalho que não era bem visto por todos. “Muitas pessoas achavam que era mais fácil passar o ferro no cabelo”, afirmou. Quando conseguiu ganhar um salário mínimo num dia de trabalho, Rose percebeu que não tinha mais volta.
Rose entendeu que o caminho era estudar. Cursou o Magistério, mas se especializou mesmo foi em cabelos, começando com um curso no Senai, até chegar ao próprio salão. “Não tem padrão para a beleza”, decretou Rose Neves. Mas Iraci de Jesus, empreendedora de nascença, vai mais além ao dizer que pessoas devem ser vistas como são e não pelo que fazem ou têm, não importa se são pretas ou brancas, conforme destacou. “O que define o sucesso não é estar num lugar alto ou ter uma situação financeira boa, mas vencer os desafios, saber recomeçar sempre e continuar seguindo em frente”, enfatizou.